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Como ponto de partida os textos de Byrne são interessantes, porque revelam o senso-comum que se vai tendo da realidade actual. Com efeito, ao mesmo tempo que nas sociedades em que a bicicleta era até há pouco tempo muito utilizada, o seu uso vai sendo vencido pela adopção do automóvel (Pequim, Hanói, Shangai, Manila, Marraquexe) enquanto nas cidades europeias o uso do automóvel vai tendencialmente estando mais controlado não só em frequencia de uso, como igualmente em termos de espaço. Isto está, por enquanto, a ser possível porque em muitas das cidades europeias, particularmente nas mais antigas, ainda existe um núcleo histórico que cresceu em torno de um centro, onde coexistem habitação, comércio, serviços e áreas de lazer, cuja revitalização é possível e o emaranhado de ruas é compatível com a introdução (ou reintrodução) da bicicleta (Paris, Londres, Berlim, Barcelona, Florença são exemplos dessas cidades). Há, naturalmente, cidades mais recentes onde o núcleo central desapareceu ou deslocou-se para periferias distantes, fruto do urbanismo desenfreado, ou da criação de zonas comerciais, industriais ou de serviços fora do referido núcleo central (Lisboa e Madrid são cidades onde se optou por este tipo de desenvolvimento), tendo sido atravessadas por vias rápidas mais compatíveis com o uso do automóvel que da bicicleta. Salientam-se contudo os esforços - por vezes demasiado tímidos - que em Lisboa têm vindo a ser feitos para reintroduzir a bicicleta e a mobilidade leve dentro do perímetro urbano da cidade.
Na cidade americana, à excepção de Nova Iorque (zona de Manhattan), Boston ou São Francisco (mas outras haverá certamente), que adoptaram um modelo de desenvolvimento inicial muito próximo do europeu, o uso da bicicleta tem uma expressão forte e tornou-se um objecto de moda, pelo que a pouco e pouco vai-se impondo. O que é realmente de salientar é que no "novo" centro de Nova Iorque, numa zona perdida para os peões e bicicletas como era Times Square, Michael Bloomberg conseguiu em dois anos inverter a tendência, humanizou a zona, fomentando o uso da mesma por pessoas, tornando-a numa zona de lazer, que logo em seguida trouxe consigo a abertura de pequenos estabelecimentos que modificaram aquela zona.
O exemplo de Nova Iorque deve constituir um modelo de inspiração para outras cidades e pensamos que pode constituir um excelente exemplo para Lisboa (v. video abaixo).
2 comentários:
O prazer do papel folheado é insubstituível e eu agarrei-o assim que o correio deixou. Deixei-me levar pelas cidades do DB num pedaço de paraíso onde a bicicleta é a dona da estrada até ao mar.
Quem ainda não leu e pensa comprar, recomendo a edição em AudioBook. A brilhante narrativa cresce na riqueza sonora dos sons ambientes, envolve pela selecção musical e vive na voz musical do autor. Como ele próprio lamenta só os odores ainda não estão presentes.
O livro lido é o que melhor se aproxima a poder ouvir o senhor TH à mesa, já agora com um bom vinho.
Creio que a Amazon vai disponibilizar uma edição em CD.
Aqui encontram uma outra sugestão literária.
Eu não achei uma grande obra literária, mas fica o testemunho de alguém que usa a bicicleta tanto quanto pode e isso é sempre de enaltecer. Agora fiquei com curiosidade de ouvir o audiobook, evidentemente.
Obrigado pela recomendação e parabéns pelo "simply commuting".
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