No VII Congresso Ibérico tive oportunidade de dissertar um pouco acerca do estado actual da Ecovia do Algarve, designadamente de tecer alguns comentários relativamente a uma importante estrutura de lazer - porque é disso que se trata - muito mais do que de uma via de utilização diária e frequente, pensada como eixo viário estruturante para potenciais utilizadores. Igualmente referi então que a Ecovia revela diversas carências que muito dificilmente poderão ser colmatadas sem uma visão adequada por parte dos poderes públicos. Evidentemente, há pessoas dentro da AMAL e dos próprios municípios que têm essa visão e a vontade suficientes para levar por diante o projecto, mas falta seguramente o apoio de quem manda e decide. Entre as conclusões tiradas (algumas das quais constatadas in loco pelos participantes no VII Congresso durante um passeio que tiveram oportunidade de dar), destacam-se, de forma não exaustiva:
-A existência de problemas técnicos de implementação como sejam, por exemplo, a não limpeza da via antes da pintura dos símbolos (há troços em que o simples facto de o vento ter soprado horas depois da pintura da sinalética na via levaram ao apagamento puro e simples dos símbolos);
- Falhas de sinalização (ou sinalização inexistente) da via aos demais utentes de veículos motorizados que circulem na Ecovia (que nem sempre é evidente nem assumida);
- A via apresenta pouca ou nenhuma complementariedade com troços de vias cicláveis ou pedonais já existentes,
- Preferiu-se privilegiar o investimento em ligações entre localidades, quando o que faz falta é tornar acessível a utilização da bicicleta no centro das cidades;
- Há descontinuidade no traçado e nem sequer se pode dizer que tal descontinuidade seja apenas na ligação entre municípios; com efeito, mesmo entre troços dados como concluídos dentro de um mesmo município, existem descontinuidades gritantes (ex: entre a ponte de Portimão e o passeio pedonal junto ao jardim da doca e entre o Vale do Trafal/Almargem de Quarteira e a entrada de Quarteira) que desconcertam quem circula na Ecovia;
- Não há ainda ligação entre Faro e Olhão, a qual seria a mais importante pelo número de pessoas que circulam entre os dois pólos diariamente;
- Para que se torne um sucesso a Ecovia, como qualquer via ciclável planeada, deve contribuir para trazer pessoas para o centro da cidade, humanizando-o, uma vez que a utilização da bicicleta permite a fácil ligação à circulação pedonal e aos demais transportes;
- A bicicleta é o meio de locomoção que mais facilmente permite e garante a igualdade entre as pessoas e a Ecovia podia e deviar ter um papel determinante na criação dessa realidade;
- Nos troços já construídos que apresentem deficiências devem-se executar as garantias dos empreiteiros com vista à substituição ou reconstrução do que for necessário no âmbito dos trabalhos efectuados;
-Suscita-se a dúvida relativamente à forma como será efectuada a manutenção do que já foi construído, que em alguns casos já apresenta sinais de degradação ou foi alvo de vandalismo.
Entrentato, confirmando o que já se sabia, o Público ontem veiculava uma notícia na qual dava conta que "a Ecovia, projecto-piloto em Portugal que ligará Sagres a Vila Real de Santo António numa extensão de 214 quilómetros, está em risco de perder financiamentos comunitários se as autarquias envolvidas não terminarem as obras até final deste ano."
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